Já me separavam quatro horas da última meia-noite e os meus
olhos continuavam abertos, a minha cabeça continuava ligada e o meu espírito
continuava energético. Definitivamente, eu hoje não iria dormir. Enquanto os
ponteiros do relógio se moviam, bem devagar, eu relembrava a minha vida e
imaginava o meu futuro. Eu ansiava o dia seguinte, ansiava que a manhã nascesse
e esta ansia acelerava-me o sangue.
Por fim, apareceu uma claridade acinzentada, o céu estava
escuro, com as nuvens coladas, adivinhava-se chuva. O relógio continuava contra
mim, assim, a velocidade do tempo era tanta que este parecia estar parado. O
dia foi passando e eu, nem por um instante, saí de perto da minha família, que,
assim como, o céu estava triste. Porém esse estado de espírito era
compreensível, visto que, dentro em breve, eu partiria. O dia foi passando e a
chuva foi caindo. O dia foi passando, o dia foi passando até que, o relógio
alcançou o momento da verdade… e sim, eu entrei no comboio.
As pessoas que me são mais próximas acham que eu não sei o
que estou a fazer, para elas, o correto seria ficar por lá a fazer o que uma
miúda normal faz, mas eu arrisquei. Eu deixei para trás a minha família, o meu
trabalho, os meus amigos, a minha cidade… e arrisquei. Caso eu não o tivesse
feito, ao longo da minha vida, iria ouvir várias vezes: “E se eu tivesse
arriscado? Será que?”. Aos meus noventa anos, eu vou pensar que tudo acabou,
vou pensar nas decisões que tomei, se eu fui, realmente, pelo caminho que
queria seguir ou se fui pelo mais fácil, mais óbvio. Nós só temos uma
oportunidade, temos de aproveitá-la, eu não me sentiria bem comigo mesma se não
a tivesse aproveitado. Se eu não tivesse tentado, um dia, que explicação é que
eu daria a mim mesma. Com toda a certeza, eu não sou uma rapariga normal. Eu
não sonho com um bom emprego, uma casa na praia ou casar… eu só quero ser feliz
comigo mesma.
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