Quando
um mundo te leva a outro. Quando um pensamento te recorda outro. Quando uma
fotografia te leva a um livro. Terá esta experiência um nome? Não sei, talvez
num outro idioma, numa vivência diferente exista uma palavra que descreva este voo
de ideias. Eu, chamo-lhe: Ligações Tranquilas.
Há
ligações que são mais previsíveis, consideradas naturais, por exemplo, ouvir o
nome de um conhecido liga-nos imediatamente à sua imagem ou ouvir a palavra “verão”
e ligar imediatamente a férias. No entanto, mesmo essas ligações são difíceis
de se explicar, é necessário conhecimentos científicos, lógica e paciência. Nutrientes
que não fazem parte dos meus cereais. Assim, explicar uma ligação mais abstrata,
neste caso, a ligação de uma imagem de um par de luvas de boxe gastas, à obra Morreste-me,
de José Luís Peixoto, é (devido, sobretudo, aos meus cereais pouco nutritivos)
uma tarefa quase irrealizável. Porém existe um “quase” e onde existe um “quase”,
existe esperança.
A
cor da fotografia corresponde com a cor do livro, com a cor da dor, da
tristeza, do luto. Corresponde com a cor de um filho que perde um pai, de uma
alma que recorda o falecido, de um espírito que procura o inexistente. A posição
e condição das luvas remete para o fim de algo, talvez de uma carreira, de um
jogo ou de um treino, transmitindo cansaço, transmitindo memórias, transmitindo
vida. Um cansaço de lidar com a angústia, memórias de quando aquele par de
meias ainda tinha duas meias, vida que contínua ainda que falte a sua vida. É,
então, necessário aprender a lidar com a perda e seguir em frente, é o fim
daquele iogurte, mas há mais no frigorífico, caso contrário, há na mercearia ou
no supermercado, resta apenas erguer o corpo para o alcançar.
Em suma,
este voo de ideias não tem comandante, logo é difícil ao passageiro explicar o
destino que o avião tomou.
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